UM DESENHO POR SEMANA

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Inspiração é papo furado


















Todo dia aparecem posts sobre inspiração na web. Como se inspirar, dicas de sites, pessoas para seguir, lugares pra ir, filmes pra ver se você escreve, fotografa, desenha, é empreendedor, ou simplesmente se você é. Até campanhas publicitárias para grandes estatais exploram o tema.

Parei em um desses textos e questionei qual, em meio à multiplicidade de referências, realmente é minha inspiração mais constante. Conversa, papo, ou melhor bate-papo. E geralmente focado em uma pessoa só. Os assuntos surgem e os pensamentos diferentes, similares ou destoantes vão se encadeando, se confrontando ou se completando. É isso. Textos, desenhos que fluem com mais naturalidade, tiveram uma parcela de trabalho, às vezes longo, mas despretensioso, feito no bate papo com amigos. Aquilo que existia na cabeça, que falava na alma e queria sair, encontra na visão outra, uma mão que puxa a ideia embrionária pra fora. E aquilo fica ali rodeando seu cérebro como as estrelinhas de desenho animado quando se toma uma pancada na cabeça até você colocar no papel, no instrumento, ou na ponta do lápis.

Foi aí que o óbvio surgiu em minha frente. Lembrei dos idealizados cafés em Paris, com a reunião de grandes artistas e pensadores em diversas épocas, teorizando, bebendo ou simplesmente se encontrando, falando sobre a produção um do outro ou apenas não falando, mas vivendo o clima de suas ideias. Lembrei dos compositores nos botecos zona sul do Rio, ou das rodas de Partido alto nas favelas e na zona norte. É claro que todos esses artistas inspiravam-se também em suas relações pessoais, familiares, amorosas, em suas próprias dores em suas alegrias em seus estudos etc. Mas alguma coisa acontece quando se conversa. O bom papo despreocupado tem o poder de disparar gatilhos escondidos e jogar gasolina em pequenas chamas que ficam ali no canto da mente.

Percebi que aquilo que idealizamos (como Woody Allen em Meia Noite em Paris), Paris, o Rio, as escolas literárias, artísticas de outras épocas, os coletivos que existem aos montes hoje por aí, tem a mesma premissa: o tal do bate papo, somado à vontade/necessidade de fazer algo. Percebi que o perfeito, e enriquecedor papo que os grandes de nossa história tinham em um encontro noturno qualquer, estão e sempre estiveram ao alcance de nossas bocas. Não é preciso um evento, um encontro dos apreciadores, fazedores ou amantes de qualquer coisa. Basta um “vamos tomar um café hoje?”


Sair para conversar, andar por aí ou até mesmo bater papo por serviços de mensagens, pode resolver. Isso é o tal do social que tanto precisamos, não só pra criar, mas pra nos percebermos, pra despertarmos mutuamente. Pra enxergarmos o que falta e o que sobra. Pra preenchermos as lacunas, pra criarmos lacunas. Pra resolvermos equações, pra propormos novos teoremas, ou apenas pra enxergarmos que não existem teoremas. Para sairmos um pouco da terra e enxergarmos coisas sem sentido ou para colocarmos os pés no chão. O papo é um construidor humilde da visão externa da vida e do conhecimento interno do eu, e do que o outro beneficamente causa em mim. O papo é um alivio e um combustível. Um sopro no machucado e uma explosão na mente.

O papo é a prova final que não há ideia completa em mim. Existem os assuntos, existem os gostos, os desgostos existem os desejos, existe a vontade de falar. Aí é que você vem e fala nas entrelinhas, meio sem saber: “nasça” e a coisa acontece.

É nesse contexto que hoje percebo que tudo o que faço é em dupla, menos a transpiração.

 Esse texto é uma sincera gratidão a todos vocês que já fizeram minha mente explodir alguma vez, apenas usando palavras e quem sabe, uma xícara de café.

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